quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Venho por este meio e, nesta infeliz e longínqua data desculpar-me pelo facto de não postar nenhum dos meus trabalhos há já bastante tempo, quase há tantos meses como dedos na minha mão. Especialmente à minha caríssima professora de Físico-Química que sempre demonstrou um especial interesse e apresso pelas coisinhas que vou escrevendo. Obrigada Professora Rute, significa muito para mim. O próximo poema tem uma mensagem para si professora, espero levá-la aqueles momentos de observação das estrelas... Mais especificamente ao cenário de quem observa o Céu à beira-mar...

É onde o Céu é Mar e o Mar é Céu
Que peço ao Vento que me leve
Apenas porque o Mundo é breu
Apenas porque o momento é breve

Haverá lugar mais seguro para se pedir
Tudo se confunde - nada é real
Não há espaço para cair
O Mal é Bem. O Bem é Mal

Apenas porque tudo se confunde
Apenas porque tudo é breu
Solto palavras no eco
Manchas de certo no incerto
Pedaços de sonho no Céu

Esta noite largo o corpo para que o meu espírito toque no teu
Apenas porque estás longe e o hoje o longe é mais perto
Porque sonhos são areia no deserto
Porque sopra o Vento e o momento é meu

Carolina Gramacho
Algures em Agosto

Espero sinceramente que a ciência nunca revele o mistério do céu. A poesia perderá muito... Sabe professora, às vezes gosto de pensar que estrelas são apenas lágrimas do céu por explicar, aqueles sonhos fortes que por magia não caem ao Mar... Gosto porém de saber e que vida é vida sem curiosidade?

Cumprimentos Professora

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Promessas não cumpridas e Preces nunca ouvidas

Prometi que minha boca iria celar,
Se dela saíssem palavras sem rimar...
Desde o momento em que em casa entrar,
Até à porta se fechar e eu, as escadas descer.
Só aí poderei falar e deixarei de ser cifra para alguém que não sabe ler.
Ou ouvir a leitura...
Soltar-se na música de cada palavra,
Ouvindo a amargura de cada frase,
Fechando-se na cadeia aberta
E encontrando-se na primeira vírgula, que a mente desperta.
Soltar a língua e descontrolar emoções.
Permitir-se à entrada na demência.
Ignorar orações de falsa penitência
E sorrir a nobres saudações

Sei que nunca cumprirei tal promessa...
Não por mim, mas pelos decifradores
Que, para que eu me despeça
Me cobrirão o corpo de flores...
Não tento imaginar o tédio no qual se iria tornar
A vida de minha mãe tão adorada
Que, assim que me visse calada
Junto à porta já estava ajoelhada
Ou num cantinho aquém...
Rezando à Virgem, proclamando:
Ámãe, Ámãe!
Graças aos Céus que jovem boca se fechou!
Mas que maldição Deus lhe pregou
A insanidade lhe reza toda a sua demanda...

E quando amigos me chamarem à varanda
E eu lhes permitir a entrada
Assim que tentar cumprir tão louca demanda
Dirão: A la mierda camarada!

Carolina Gramacho
07.01.2010
23:00h

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Acordo feliz.
Reside dentro de mim a ilusão esperançosa
De que tudo aquilo que fiz
Sejam apenas sonhos da noite traduzidos na doce prosa
De quem corre para os contar
Assim me engana a vida
Logo ao acordar...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Amor...

Amor é demência.
Amor é insanidade.
Nobre e quente elouquência,
De toda a minha actividade.

Será amor, sinónimo de bravura?
Amor é consciente loucura
Fruto da minha amargura
Lágrima nua da minha saudade...

Amor... Temido pesadelo.
Amor... Eterna realidade.
Amor... Inocente fantasia...
Nobre veneno...
Cruel anestesia...
Assassino do alegre coração ameno.
Devorador de toda a verdade.

Amor, estripador de princípios,
Amor, aparente coragem.
Criador dos mais perfeitos precipícios.
Suplico que te alertes com a minha mensagem...
Choro aqui para assinar o armistício
Que me livre da guerra de toda a mente selvagem.

Carolina Gramacho
16.12.2009
22:30

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Sentindo tão intensamente tudo o que me rodeia

fechei-me na minha própria história.

Acabei presa na minha cadeia

Trancada na minha memória.


Pensando bem nenhuma diferença fará

Pois vivendo num sonho de eterna paixão

Mais uma lágrima só dará

Ainda mais asas ao fruto da minha vocação


Não sei como prefiro viver

Será melhor enfrentar a realidade?

Entregar-me à vida e deixar-me sofrer...

Ou deverei soltar-me na minha imaginação?

Onde a verdade e a razão

Simplesmente não cabem no meu coração

Nem existem sequer os motivos para fazê-las caber


Para quê lutar arranjando saída da memória

Se o mundo não merece o sangue

Que a verdade derramou na história

E, no entanto por ele nada mudou.

Se o gatilho se soltar

E a realidade voltar a atacar

Apenas morrerá outro alguém que nunca pecou

Ele não será mais que o fruto da saudade

De alguém que terno sonho idealizou


quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O defeito das Palavras....


Penso... E não é agradável... Sinto que estou a curtir uma maldição ou a me exaltar num estado-espírito deprimente... Penso... Em tudo o que aconteceu... Momento por momento, como se ouvisse a minha própria história pela primeira vez... Como se o meu cérebro rebobinasse toda a minha vida e assistisse a ela impávido e sereno, como se gostasse de ser dominado por ela... Como se lhe desse alguma espécie de prazer inverter os papéis e desejasse abdicar do seu papel de narrador para ser apenas mais uma personagem nas mãos do destino... Penso... Em tudo o que já me disseste... Pequenas grandes coisas às quais nunca dei muita importância... Penso e percebo que fui uma estúpida. Neste momento dava tudo para te ouvir dizer tudo o que antes me disseste. Frase por frase... Palavra por palavra...

Palavras... Talvez sejam a minha maior virtude... Penso que consigo fazer o que quero com elas, trato-as como se fossem o meu pequeno jogo pessoal, o que é bastante divertido, pois ninguém as joga da mesma maneira que eu... Sinto-me forte quando as uno e as envergonho, utilizando-as como bem me apetece. É um jogo que para mim tem vitória garantida. E, só hoje é que me apercebi que as palavras são mais complicadas do que parecem, são falsas... Mentem... Ingenuamente, dei-lhes tanta importância que acabaram por controlar a minha vida e destruí-la. Fiz tanta porcaria utilizando as minhas queridas inocentes palavras... Parabéns... Apanharam-me. As palavras que utilizei sem sentido foram tão fortes e disse-las com tanta convicção que, agora as minhas próprias palavras não são fortes o suficiente para limpar toda a porcaria que fiz. Deixei-me levar por mim própria e caí nas piores armadilhas do Mundo, as minhas. Palavras... Suas cabras... Quem são vocês afinal? É incrível como coisas tão simples de utilizar me puseram com tamanha facilidade entre a espada e a parede. Odeio-vos. Reles parasitas que me comem por dentro...

Palavras... Conseguem preencher infinitas vidas... E dizendo-o com alguma raiva e tristeza... A minha vida nem preenche uma palavra.


Carolina Pontes Gramacho Vieira

00:08 - 24.11.09

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Lágrima


Uma lágrima escorre fria sobre o rosto de alguém... Devagar... Caí sobre uma folha, mancha palavras e destrói sonhos... Os olhos enchem-se de outras iguais a ela, tão igualmente frias e tão dolorosamente límpidas como a primeira... Uma por uma vão destruindo pequenas esperanças e, com toda a sua fúria originam os mais terríveis pesadelos. É neste momento que os olhos mostram todo o seu desespero e a vulnerabilidade da alma é então posta em jogo... Vê-se tudo... Os sonhos, os pensamentos, a dor...
O medo.
Agora, o corpo revolta-se e as lágrimas continuam a escorrer, desta vez, empurrando-se uma a uma, entrando por fim em força numa batalha mortífera contra nós...
Limpá-las ou deixá-las escorrer é completamente indiferente... Conseguimos senti-las na mesma. Não precisam de nos tocar. Não precisam de nos molhar o rosto com a sua subtileza assustadora, pura e frágil que nos vai destruindo lentamente. Não sabemos o que fazer, é um acto demasiado emotivo, vulnerável e arrasador, para nos entregarmos a ele, mas demasiado forte para tentarmos sequer ripostar... É terrivelmente humilhante ao mesmo tempo toma uma amplitude quase que celestial, magicamente triste e mortífero...
O corpo desiste, e lança de diversas maneiras o tal do lencinho branco, pedindo a si próprio misericórdia. Nunca nos é dada. As lágrimas continuam a escorrer... Agora animadas de uma rapidez impressionante, escorrem como se fugissem de um campo de batalha na cidade inimiga, mas antes saqueam destroem todos os seus bens mais preciosos.
O corpo cansado eleva, finalmente as mãos ao rosto e limpa como se se tratasse de mera sujidade todo o fruto da sua tristeza. A raiva toma conta de nós e essa sim, é mais forte que as lágrimas, mas é efémera e a tristeza prevalece. Os olhos revoltados lutam contra a natureza dos sentidos e travam o choro de maneira curta e rápida. A respiração acelerada e ofegante que antes tomava conta dos nossos pulmões é agora atenuada e o olhar segue-a como se se tratasse de uma dança rítmica e assustadoramente coordenada. Torna-se vazio e foca um pequeno ponto. Um ponto qualquer, pode nem ter significado. Perde-se nele. O corpo, como não podia deixar de ser junta-se a maravilhosa dança da preciosa calma e, com todo o seu encanto toma uma amplitude tão magicamente serena que merece contemplação...
Vai começar a sua tão conhecida prova de esforço. Começamos a construir sem saber a única coisa que nos irá tirar da dor. A única coisa que nos pode ajudar...
Força.
Não sei como o fazemos, nem me arrisco a descrever. Creio que ninguém o sabe. O facto aqui é que conseguimos criá-la... Gradualmente... Devagarinho... E, quando finalmente está pronta a ser utilizada o nosso corpo avisa com um sintoma da sua chegada...
Coragem.
Agora é que tudo muda. Os nossos olhos fazem uma coisa fantástica. Param de fixar aquele insignificante ponto e começam a procurar a felicidade através dele.

Carolina Pontes Gramacho Vieira
20-11-2009